Geobiologia

 

Por Allan Lopes

Toda construção é um ser vivo, composto de uma anatomia e de uma fisiologia particulares que conferem, em sua conjunção, características saudáveis ou não ao ambiente. Características estas que são passadas a seus usuários e moradores interferindo diretamente em sua qualidade de vida.

A noção de que os espaços interagem com as pessoas e de que esta interação pode ser saudável ou insalubre é o fundamento da Biologia da Construção, também conhecida por Geobiologia. Assim, ela pode ser definida como o estudo do impacto das construções sobre a saúde humana e a aplicação desse conhecimento para a construção ou modificação de lares e locais de trabalho.  

A Organização Mundial de Saúde (OMS) concebe o termo Habitação Saudável partindo do pressuposto de que a habitação atua como um agente da saúde de seus moradores. De outro lado, descreve a Síndrome do Edifício Enfermo como a condição médica em que indivíduos adoecem sem razão aparente ao habitar ou trabalhar em um dado edifício e que os sintomas se agravam com o aumento da permanência no mesmo. A OMS considera, ainda, que  esta condição leva a uma severa diminuição da capacidade de trabalho e perda de produtividade.

A Biologia da Construção busca, assim, gerar a Casa Saudável, mantendo sempre seu enfoque positivo, ou seja, tratando as casas como fonte de saúde e não de doenças.

Seja comercial ou residencial, a habitação torna-se, naturalmente, um espelho de nosso modo de viver, de nossa personalidade e de nossa alma. Até certo ponto, o contrário também pode acontecer. Podemos nos tornar reflexos dos lugares que frequentamos, já que somos alterados por eles caso a permanecia seja duradoura.

Em primeiro lugar, desejamos que uma casa, ou um escritório, nos proteja das intempéries e das agressões naturais, e, em segundo lugar, que tenha um mínimo de conforto. Além disso, o design, as cores, os móveis e todos os demais detalhes serão a expressão do nosso modo de viver dentro e fora de "quatro paredes".

A busca por habitações saudáveis, que nos tragam qualidade de vida e que sejam harmoniosas com o meio ambiente vem como uma resposta de seres humanos mais sensíveis à rápida e abrupta mudança que nossa espécie tem causado a si própria e ao planeta.

O ser humano, ao entender que o seu modo de vida atual é incompatível com a manutenção da vida, tem que buscar, conscientemente, entender como a vida se processa para resgatar o equilíbrio - antes natural e quase inconsciente - que ele perdeu após a Revolução Industrial.

A observação dos desastres ecológicos e sua repercussão em nossa vida, bem como os desequilíbrios causados à nossa saúde por maus hábitos, nos fizeram buscar algo que chamamos de qualidade de vida, ou seja, viver com saúde, com alegria e felicidade sem machucar ou causar dano ao próximo e à natureza.

A extrapolação destes conceitos à casa ou escritório, procurando fazer com que estes reflitam essa preocupação pessoal, humanitária e ambiental é o que faz a ciência da Geobiologia ganhar cada vez mais força no mundo todo, juntamente com outros movimentos que buscam incentivar conceitos como qualidade de vida, sustentabilidade, vida saudável, ecologia, dentre outros.

Assim, passamos a ver nossa habitação como uma terceira pele, das cinco que temos. Nossa primeira pele é a orgânica, que cobre nosso corpo, a segunda são as nossas vestimentas, que devem ser tão seletivamente permeáveis quanto a primeira. A terceira pele a nossa casa, a quarta nossa cidade, vila, lugarejo, ou casa no campo, e a quinta e mais abrangente a nossa Terra, casa onde todos habitam. Todas estas cinco peles, ou organismos devem trabalhar em conjunto e são partes de um único organismo.

Os principais fatores estudados pela geobiologia, no sentido de trazer saúde aos espaços e conseqüentemente aos seus moradores são:


 

Qualidade Interna do Ar

Umidade

Temperatura

Som

Iluminação

Radioatividade  

Magnetismo natural

Eletromagnetismo

Proporções harmonicas

Ergonomia

Materiais de construção

Perturbações geológicas


 

 

Raízes históricas:

A Geobiologia foi concebida com este nome a partir do século XX, mas é considerada uma ciência ponte entre um legado de conhecimentos antigos e as formas modernas de se observar o mundo, tendo sempre em consideração a relação entre a habitação e a saúde.

Hipócrates, em sua obra "Sobre os Ares, Águas e Lugares", falava da influência da localização geográfica e dos elementos físicos/ambientais como clima, disponibilidade, qualidade e facilidade de acesso à água, presença de vegetação, ventos, sobre a saúde e estereótipo dos habitantes de cada lugar.

Podemos observar que na cultura chinesa antiga, o mesmo indivíduo que praticava a medicina conhecida por Medicina Tradicional Chinesa, tendo a Acupuntura como a sua maior expressão, também praticava o que hoje se chama Feng-Shui, que na época era considerada a extensão do conceito de saúde para a habitação.

A mesma dinâmica era encontrada na Índia, onde a Vaastu Shastra, uma ciência de equilíbrio dos espaços, e a Ayurveda, a medicina Indiana, eram praticadas pela mesma pessoa.

No Egito Antigo, a figura dos arquitetos e sacerdotes dos templos atuavam também na profissão de médicos, como nos indicam várias inscrições antigas.

Nas Américas, podemos ver a figura do comumente chamado Pagé, ou Xamã, como sendo também o consultor para a localização da aldeia e suas habitações.

Observamos, portanto, que o conceito de arquitetura e medicina sempre estiveram ligados à existência humana e que a busca por Casas Saudáveis nos acompanhará em nossa jornada rumo a um mundo e uma sociedade mais saudáveis e sustentáveis.